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A volta para casa

 A volta para 

A volta para casa

Algumas semanas após seu retorno, entrei em contato com Alla em Kherson por telefone.

"Finalmente tudo acabou, assim que chegamos aqui", ela me diz alegremente.

Danylo e a mãe Alla em um ônibus
Legenda da foto,

Danylo finalmente se reencontrou com sua mãe Alla

Alla admite que, no início, sentiu entre a população local um ressentimento em relação às mães que enviaram seus filhos a acampamentos de verão, vistas como "colaboradoras" por mandar as crianças para instalações administradas pelos russos. Mas Alla sente que esse sentimento desapareceu.

Na própria família, Danylo voltou a brigar com o irmão caçula e a estudar online, em ucraniano. Mas sem internet em casa, ela tem que correr para o centro da cidade em busca de Wi-Fi para baixar os trabalhos escolares. E isso é arriscado.

Desde que os russos foram forçados a recuar, abandonando Kherson, eles vêm se vingando da cidade do outro lado do rio.

"Eles estão bombardeando de manhã à noite", confirma Alla, embora diga que sua casa está relativamente longe das posições russas. Eles não têm planos de partir.

Danylo ainda participa de um grupo de mensagens com as outras crianças do acampamento e a maioria que ficou já foi resgatada. Mas ele diz que cinco foram transferidos para um orfanato em algum lugar da Rússia.

Alla me enviou uma fotografia do quarto das crianças, com fileiras de camas de solteiro, um tapete barato e uma planta. Não está claro para onde as crianças deixadas para trás serão enviadas em seguida.

As crianças desaparecidas

Na zona rural da Alemanha, Sasha teve tempo de se adaptar à vida e a outra nova escola, mas Tetyana está achando a adaptação um pouco mais difícil.

Em seu apartamento, ela explica que seu filho mais velho ainda está na Ucrânia esperando ser convocado para lutar a qualquer momento. Tetyana não quer nada além de ir para casa e para o marido, mas Kupyansk está sob fogo pesado novamente.

No final de abril, mísseis russos destruíram o museu de história local, matando duas mulheres. Antes disso, a velha escola de Sasha na cidade foi seriamente danificada quando mísseis caíram nas proximidades.

Oito meses após ele e as outras crianças serem levados de lá, cinco ainda permanecem em território controlado pela Rússia. Tatyana Semyonova, a diretora da escola onde foram parar, confirmou a informação.

Sarah Rainsford usando telefone
Legenda da foto,

Repórter da BBC Sarah Rainsford conseguiu falar com diretora da escola por telefone

Fiquei surpresa por ela ter concordado em falar, mas o número russo que usei deve tê-la confundido. Assim como minhas perguntas.

A diretora alegou que ninguém havia entrado em contato sobre as cinco crianças, o que sabemos não ser verdade, e insistiu que ela os liberaria "imediatamente" assim que seus responsáveis legais viessem buscá-los.

Mas isso é improvável: várias fontes me dizem que as crianças são tratadas como "órfãos sociais", cujos pais ainda estão vivos, mas não podem cuidar deles.

Quando perguntei por que a Rússia poderia levar crianças sem permissão da Ucrânia, mas exigir uma papelada para devolvê-las, Tatyana Semyonova foi curta na resposta.

"O que isso tem a ver comigo? Eu não os trouxe aqui."

No site da escola que ela comanda em Perevalsk, Sasha identificou mais duas das crianças desaparecidas de Kupyansk entre as fotos disponíveis: Sofiya e Mikita, de 12 anos, estão fantasiadas e enfileirados em homenagem ao Exército russo.

Pergunto à mãe de Sasha o que ela acha do mandado de prisão emitido para o presidente da Rússia.

"Não apenas Putin, mas todo o seu pessoal — todos os comandantes — deveriam ser julgados pelo que fizeram com as crianças", responde Tetyana Kraynyuk, sem hesitar.

"Que direito eles tinham [de levar as crianças]? Como esperavam que fôssemos recuperá-las? Eles simplesmente não se importam."

Produção de Mariana Matveichuk

Fotos de Matthew Goddard e Sarah Rainsford

- Este texto foi publicado emcasa

Algumas semanas após seu retorno, entrei em contato com Alla em Kherson por telefone.


"Finalmente tudo acabou, assim que chegamos aqui", ela me diz alegremente.


Danylo e a mãe Alla em um ônibus

Legenda da foto,

Danylo finalmente se reencontrou com sua mãe Alla


Alla admite que, no início, sentiu entre a população local um ressentimento em relação às mães que enviaram seus filhos a acampamentos de verão, vistas como "colaboradoras" por mandar as crianças para instalações administradas pelos russos. Mas Alla sente que esse sentimento desapareceu.


Na própria família, Danylo voltou a brigar com o irmão caçula e a estudar online, em ucraniano. Mas sem internet em casa, ela tem que correr para o centro da cidade em busca de Wi-Fi para baixar os trabalhos escolares. E isso é arriscado.


Desde que os russos foram forçados a recuar, abandonando Kherson, eles vêm se vingando da cidade do outro lado do rio.


"Eles estão bombardeando de manhã à noite", confirma Alla, embora diga que sua casa está relativamente longe das posições russas. Eles não têm planos de partir.


Danylo ainda participa de um grupo de mensagens com as outras crianças do acampamento e a maioria que ficou já foi resgatada. Mas ele diz que cinco foram transferidos para um orfanato em algum lugar da Rússia.


Alla me enviou uma fotografia do quarto das crianças, com fileiras de camas de solteiro, um tapete barato e uma planta. Não está claro para onde as crianças deixadas para trás serão enviadas em seguida.


As crianças desaparecidas

Na zona rural da Alemanha, Sasha teve tempo de se adaptar à vida e a outra nova escola, mas Tetyana está achando a adaptação um pouco mais difícil.


Em seu apartamento, ela explica que seu filho mais velho ainda está na Ucrânia esperando ser convocado para lutar a qualquer momento. Tetyana não quer nada além de ir para casa e para o marido, mas Kupyansk está sob fogo pesado novamente.


No final de abril, mísseis russos destruíram o museu de história local, matando duas mulheres. Antes disso, a velha escola de Sasha na cidade foi seriamente danificada quando mísseis caíram nas proximidades.


Oito meses após ele e as outras crianças serem levados de lá, cinco ainda permanecem em território controlado pela Rússia. Tatyana Semyonova, a diretora da escola onde foram parar, confirmou a informação.


Sarah Rainsford usando telefone

Legenda da foto,

Repórter da BBC Sarah Rainsford conseguiu falar com diretora da escola por telefone


Fiquei surpresa por ela ter concordado em falar, mas o número russo que usei deve tê-la confundido. Assim como minhas perguntas.


A diretora alegou que ninguém havia entrado em contato sobre as cinco crianças, o que sabemos não ser verdade, e insistiu que ela os liberaria "imediatamente" assim que seus responsáveis legais viessem buscá-los.


Mas isso é improvável: várias fontes me dizem que as crianças são tratadas como "órfãos sociais", cujos pais ainda estão vivos, mas não podem cuidar deles.


Quando perguntei por que a Rússia poderia levar crianças sem permissão da Ucrânia, mas exigir uma papelada para devolvê-las, Tatyana Semyonova foi curta na resposta.


"O que isso tem a ver comigo? Eu não os trouxe aqui."


No site da escola que ela comanda em Perevalsk, Sasha identificou mais duas das crianças desaparecidas de Kupyansk entre as fotos disponíveis: Sofiya e Mikita, de 12 anos, estão fantasiadas e enfileirados em homenagem ao Exército russo.


Pergunto à mãe de Sasha o que ela acha do mandado de prisão emitido para o presidente da Rússia.


"Não apenas Putin, mas todo o seu pessoal — todos os comandantes — deveriam ser julgados pelo que fizeram com as crianças", responde Tetyana Kraynyuk, sem hesitar.


"Que direito eles tinham [de levar as crianças]? Como esperavam que fôssemos recuperá-las? Eles simplesmente não se importam."


Produção de Mariana Matveichuk


Fotos de Matthew Goddard e Sarah Rainsford


- Este texto foi publicado em

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