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Decadência da borracha

 

Decadência da borracha

Mas há 110 anos, a partir de 1913, todo esse cenário começou a desmoronar.

Nesse ano, a produção já havia caído para cerca de 36 mil toneladas. Embora desde então o volume produzido de borracha tenha crescido 6,5 vezes até 2021, quando atingiu 235 mil toneladas, último dado disponível, o consumo cresceu mais, chegando a 417 mil toneladas, com o país tendo que importar cerca de 182 mil toneladas.

O que significa que o Brasil passou de maior produtor e exportador de borracha natural no início do século 20 para importador atualmente.

A região dos seringais também mudou. O maior produtor não é mais o Amazonas nem o Pará, mas o estado de São Paulo, que responde hoje por 60% do total do país.

A história desse declínio e do fim da riqueza gerada pela borracha na Amazônia começou bem antes de 1913, no entanto. Mais precisamente em 1876, quando o inglês Henry Wickham (1846-1928), um "aventureiro" para alguns ou um agente a serviço da rainha Vitória para outros, contrabandeou 70 mil sementes de seringueira para o Royal Botanic Gardens de Kew, uma famosa instituição de pesquisas em botânica do Reino Unido.

De acordo com o arqueólogo Vinicius Eduardo Honorato de Oliveira, da UFOP, por causa da grande demanda pelo látex da seringueira, outros países, particularmente a Inglaterra, começaram a tentar ambientar a espécie em outros locais. "O objetivo era produzir borracha em fazendas com as árvores próximas umas das outras", explica.

Na Inglaterra, apenas 2.600 das sementes levadas por Wickham germinaram, mas foi o suficiente. Elas geraram mudas, que foram transplantadas para as colônias britânicas no Sudoeste Asiático (Tailândia, Malásia, Ceilão, hoje Sri Lanca), onde se adaptaram com sucesso.

As vantagens do seringalistas asiáticos em relação aos brasileiros eram enormes. Como nota Pereira, no Brasil o processo de coleta, processamento e envio da borracha natural para os mercados consumidores era primitivo. "Era algo realizado em locais acessíveis somente por via fluvial, com meses de viagem entre o local de extração do látex e o destino final", explica.

Quanto mais distante e afastado era o seringal, mais produtivo ele era, mas isso aumentava os custos operacionais. Além disso, outros problemas contribuíram para o declínio dos seringais amazônicos, como o período de extração do látex, que ficava restrito aos seis meses do ano em que os seringais não estavam inundados (período de vazante do rio Amazonas).

Pereira cita ainda o rendimento médio da seringueira silvestre, que era de 2,5 a 6 kg de látex em comparação com as árvores plantadas, sistematicamente, em solo asiático, que apresentavam mais de 20 kg de rendimento individual.

"Essa sistematização do plantio fazia com o que o trabalhador asiático pudesse cortar, no mesmo tempo, duas vezes mais árvores do que o seringueiro amazônico", diz.

"A soma desses e de outros fatores tornou o mercado mundial inacessível para a borracha natural amazônica."

Para Oliveira, não foi surpresa, portanto, que com o avanço da produção "racional" na Ásia (particularmente na Malásia), o preço da borracha tenha caído demais (já no começo do século 20)..

"Muitos seringalistas quebraram e abandonaram os seringueiros e os seringais", diz.

"Nesse momento os seringueiros começaram a desenvolver o modo de vida que se vê hoje em muitos lugares."

Era o fim do Ciclo da Borracha e do apogeu de Manaus e Belém.

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